No momento, você está visualizando O juízo de Deus é inevitável.

O juízo de Deus é inevitável.

O juízo de Deus é inevitável tanto para Judeus como para os Gentios, esta é a tese defendida pelo apóstolo Paulo nos três primeiros capítulos da carta aos Romanos. Gentios e judeus são culpados diante de Deus em virtude da revelação que receberam. 

Os judeus receberam a revelação especial, as Escrituras; e os gentios, a revelação natural, as obras da criação. Por não viverem de acordo com a revelação recebida, ambos são indesculpáveis perante Deus.

No capítulo anterior vimos que os gentios são indesculpáveis porque, mesmo conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus nem lhe deram graças, antes desprezaram esse conhecimento, tornando-se nulos em seu raciocínio e loucos em suas atitudes. Como consequência, Deus os entregou aos desatinos de sua vontade pervertida.

Neste capítulo, nós voltamos nossa atenção especialmente para os judeus, não poderia ser de outra forma, o juízo de Deus é inevitável. Uma vez que Paulo demonstrou a culpa dos gentios, ele agora trata do caso dos judeus. Vale ressaltar que não há consenso entre os estudiosos acerca do público a que Paulo se dirige neste capítulo dois, se apenas aos judeus ou se aos críticos moralistas em geral.

Porém, a esmagadora maioria dos comentaristas, entrementes, crê que Paulo se dirige exclusivamente aos judeus, mostrando sua culpa, em contraste com a culpa dos gentios, evidenciada no capítulo anterior. Enquanto os gentios eram idólatras, boa parte dos judeus, por meio de sua auto retidão, estava fazendo de si própria, um ídolo.

A tendência de julgar os gentios por causa de sua perversão moral e religiosa era característica dos judeus. Muitos comentaristas dizem que a condenação de outros era o passatempo principal do judeu. Os judeus creem que todos estavam destinados ao juízo, exceto eles mesmos.

John Stott, afamado comentarista, diz que o foco do apóstolo aqui não são exclusivamente os judeus, mas todos os críticos moralistas, tanto judeus quanto gentios. Os que defendem esta linha de pensamento argumentam que, embora Paulo esteja pensando basicamente nos judeus, ele constrói seu argumento em termos suficientemente genéricos para incluir outras pessoas que também criticam os maus procedimentos expostos na seção anterior. O que se combate aqui, é a atitude insolente e implacável de julgar os outros em vez de lamentar os próprios erros.

O refinado gentio e o judeu do pacto condenariam rapidamente o bárbaro tosco e imoral descrito na lição anterior, que nominamos de a ira de Deus se revela do céu”. Os pecados são grosseiros e a maldade tão grande que a pessoa “normal” automaticamente diz: “É claro que tais pecados horríveis devem ser condenados, mas nós somos diferentes, não somos pecadores grosseiros como eles”. Com essa atitude, o indivíduo mais refinado se põe acima dos demais e diz: “Eu não sou tão mau assim”.

Há muitos que, ignorando a corrupção de seu próprio coração, se julgam melhores do que os outros. Por isso, apressam-se a julgar e a condenar os outros.

O fariseu no templo, vangloria-se em cada um de nós: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens”. Este é o espírito do irmão mais velho condenado por Jesus na parábola dos dois irmãos. O orgulho espiritual nos torna tão culpados quanto os que cometem adultério ou roubo. Assim Jesus ensinou, e Paulo adverte.

Tanto os gentios como os judeus são culpados por não viverem em conformidade com o conhecimento recebido. Os dois grupos têm algum conhecimento de Deus como criador, e ambos contradizem, com o seu comportamento, o conhecimento que possuem. 

Qual é, então, a diferença entre eles? Os gentios são mais coerentes que os judeus moralistas? É que os gentios praticam coisas que sabem ser erradas e aprovam os outros que as praticam (1.32), e os judeus moralistas praticam coisas que sabem ser erradas, mas condenam os outros que agem da mesma forma. 

Assim, o segundo grupo é culpado do pecado da hipocrisia, pois condena o erro na vida dos outros, enquanto eles próprios praticam os mesmos erros. Até entre os gentios havia moralistas que não praticavam nem aprovavam a conduta desregrada da sociedade, conforme o apóstolo descreveu. 

Esses moralistas podiam argumentar que aqueles que vivem nos vícios degradantes podem estar sob o julgamento de Deus, mas eles devem ser vistos sob outra perspectiva. Os judeus críticos e moralistas podiam até mesmo aplaudir Paulo pela descrição tão realista e sombria dos gentios.

No entanto, eles se julgavam diferentes. Estavam num nível mais elevado. Não eram culpados como os depravados gentios nem mereciam juízo tão severo. Os judeus religiosos encontravam amplo campo de ação para lançar juízo moral adverso sobre os seus vizinhos gentios. 

 Não importa o ponto de vista, o juízo de Deus é inevitável.

O nosso texto em Rom 2:1 a 16,  foi escrito para demonstrar que esses críticos moralistas, tanto Judeus como Gentios, estavam equivocados. Então vamos à exposição do nosso texto. O juízo de Deus é inevitável para críticos moralistas(2.1-4). O apóstolo Paulo dispara o alarme para avisar sobre quatro perigos que os críticos moralistas enfrentam:

O primeiro é: O perigo da projeção. (2.1,2) “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas. Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas”

A progressão do pensamento desenvolve-se da seguinte forma: 1) tu julgas a outrem por fazerem certas coisas; 2) tu mesmo práticas essas coisas; 3) portanto, condenas a ti mesmo e não tens justificativa.

Em virtude da sinuosidade da nossa natureza pecaminosa, chegamos a experimentar um prazer vicário em condenar os outros pelas mesmas falhas que perdoamos em nós mesmos. Freud, o pai da psicanálise, chama essa ginástica moral de “projeção”.

Normalmente não é raro, que os mais prontos e severos em julgar, sejam os mais culpados, uma vez que geralmente observamos na vida dos outros as faltas que existem em nós mesmos.

Em virtude dessa miopia espiritual, Calvino chamou tais moralistas de hipócritas e santarrões em relação às nossas faltas. Os moralistas usam lupa para ver os pecados alheios, mas colocam vendas para enxergar os seus próprios. Eles são céleres para julgar os outros, mas lerdos para reconhecer a própria culpa. Escondem os próprios pecados, mas os projetam nas outras pessoas. Julgam os pecados alheios, enquanto eles mesmos praticam as coisas que condenam.

É mais fácil ver o erro nos outros do que em nós; julgar os outros que a nós mesmos; abominar o pecado nos outros que em nós e enfrentar a feiura do pecado dos outros do que os nossos. Paulo põe à mostra uma estranha fraqueza humana. Nossa tendência em criticar todo mundo, à exceção de nós mesmos. Fazemos “uma avaliação demasiadamente favorável de nós mesmos e um juízo demasiadamente severo dos outros”.

 Havia hipocrisia e cegueira na condenação que proferiram contra os outros; hipocrisia, porque julgavam os outros pelos próprios atos de que eram culpados, e cegueira, porque não viam a própria condenação. entretanto quando falamos de pecado, não importa o ponto de vista de ninguém, o juízo de Deus é inevitável.

No Juízo, Deus jamais se desviará de Deus.

O primeiro é: O perigo da miopia espiritual. Em seu estado de torpor espiritual, os gentios eram mais coerentes que os críticos moralistas. Aqueles praticavam as coisas erradas e também aprovavam aqueles que assim procediam (1.32), mas estes condenavam as coisas erradas nos outros, embora as praticassem, eles, os críticos moralistas, enxergavam bem a culpa dos outros, mas não a própria. Viam com lentes de aumento os pecados alheios, mas não as próprias transgressões.

Além de se tornarem culpados pelos mesmos pecados dos gentios, os críticos moralistas se fizeram também hipócritas. Pior que praticar as coisas erradas é praticá-las e não admitir. “Aos olhos de Deus, não é o homem aquilo que sabe, nem aquilo que diz, mas aquilo que faz”. Paulo diz, que agindo dessa forma, nós nos expomos ao juízo de Deus, e acabamos ficando sem desculpas nem saída (2.1,2) . 

Com isso Paulo não está alegando que devemos perder completamente o senso crítico e deixar de reprovar o que está errado em nós e nos outros. O propósito do apóstolo é reprovar a atitude dos que se arvoram em juízes dos outros em vez de condenar a si mesmos, já que são culpados de cometer os mesmos atos que condenam. Apesar de uns mais outros menos na visão humana, o juízo de Deus é inevitável.

Essa atitude de ser exigente com os outros e complacente consigo, de ter um alto padrão para os outros e uma exigência mínima para si, é a mais consumada hipocrisia. Aqueles que se mostram mais dispostos a emitir juízos condenatórios contra os outros parecem imaginar que serão julgados por alguma regra diferente, escapando assim da condenação de Deus. 

Paulo, contudo, afirma que o juízo de Deus é inevitável, e segundo a verdade (2.2). A arbitrariedade não tem espaço no juízo final. Lá não vigora nenhum critério além da verdade. Deus é fiel a si mesmo. Deus jamais se desviará de Deus. Aqueles que especulam que ele receberá um tratamento especial neste julgamento terão que esperar na contramão, de toda a história da revelação divina. 

Calvino diz que a intenção de Paulo é destruir todas essas jactâncias dos hipócritas para que eles jamais pensem que, porque o mundo os louva ou eles mesmos se absolvem, estarão livres de outro exame no julgamento divino. O julgamento divino é segundo a verdade, ou seja, Deus não faz acepção de pessoas nem fixará na aparência externa, muito menos se contentará com a obra que não proceda da pureza do coração.

O terceiro é: o perigo da falsa segurança. (2.3) “Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais coisas e fazes as mesmas, pensas que te livrarás do juízo de Deus?” . Os críticos moralistas não apenas julgam as pessoas, praticam atos errados e se julgam inocentes, mas também têm uma falsa segurança com respeito ao juízo divino. Pensam estar blindados por uma imunidade especial. Acreditam no mito da impunidade. Dormem no berço esplêndido da falsa segurança.

O quarto é: o perigo da falsa interpretação teológica. (2.4) “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” Os críticos moralistas, tanto judeus como gentios, olham para a bondade de Deus como licença para pecar, e não como um chamado ao arrependimento. Veem a bondade de Deus como uma prova da parcialidade divina a eles demonstrada. Interpretam mal a bondade de Deus.

No entanto, a ausência de qualquer dos vícios pagãos não constitui sequer uma única virtude. O alvo divino em demonstrar sua bondade não é produzir soberba espiritual, mas arrependimento. Esses arrogantes moralistas pensam que só os devassos carecem de arrependimento; eles não. Ignoram que, não importa a interpretação teológica, o juízo de Deus é inevitável.

A teologia errada produz um comportamento errado. Eles usam a bondade de Deus como uma blindagem para fugir do juízo em vez de reconhecer essa bondade, como um constrangimento eloquente à santidade. Não é o julgamento de Deus que conduz os homens ao arrependimento, mas sim sua bondade.

É um estágio avançado de degradação moral quando apelamos para o caráter de Deus, especialmente as riquezas da sua bondade, tolerância e longanimidade, a fim de permanecermos em nossos pecados, alegando que Deus é bom e demasiadamente longânimo para castigar quem quer que seja e, portanto, podemos pecar e permanecer impunes. Isso é distorcer as Escrituras para nos favorecer. Isso é afrontar a Deus e sua Palavra. Isso é presunção,

O julgamento é inevitável e justo.

Depois de declarar que o juízo de Deus é inevitável, Paulo passa a tratar do caráter justo deste juízo. Destacamos aqui cinco pontos importantes.

Primeiro ponto: A demora do julgamento não diminui o peso da sentença. (2.5) “Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”. Contar com a bondade e a paciência de Deus, como se o seu propósito fosse encorajar a permissividade e não a penitência, é um sinal evidente de endurecimento espiritual. 

Significa que, estamos acumulando alguma coisa para nós. Não algum tesouro precioso, mas a terrível ira divina para o dia do julgamento. A ira é aqui invocada sobre o crítico moralista como já fora invocada sobre a humanidade em geral (1.18). Essa ira acumulada será executada no dia do juízo.

Os críticos moralistas perverteram a bondade de Deus, fazendo dela uma desculpa para continuarem pecando. Assim, tornaram-se mais impenitentes e mais endurecidos. Longe de afastar a ira vindoura, essa atitude enche ainda mais a medida do seu cálice. Mesmo que esse moralista não sofra no presente a manifestação do juízo como no caso do pagão imoral (1.24,26,28), enfrentará o inevitável julgamento de Deus no dia do juízo. 

Tudo o que fazemos na vida tem consequências eternas. Tudo o que falamos ou fazemos representa um investimento, para o bem ou para o mal, no banco da eternidade. A vida não se encerra com a morte. Ou estamos “acumulando e estocando” bons tesouros no céu, ou “acumulando” a ira para o dia do julgamento.

Segundo ponto: O juízo de Deus é inevitável, é individual, intransferível e absolutamente justo. (2.6)“… que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento”. Paulo não está ensinando salvação pelas obras aqui. Está salientando a imparcialidade de Deus com relação a judeus e gentios.

O julgamento divino é pessoal, individual, intransferível e absolutamente justo. O que o homem semear, isso colherá. O seu malfeito cairá sobre a própria cabeça. Esse é o princípio da justa retribuição no qual se fundamenta a justiça.

Todo homem será julgado pelo seu procedimento. Essa verdade é ensinada em toda as Escrituras, cito alguns: (Ec 11.9; 12.14; Mt 16.27; 25.31-46; Jo 4.19-29; ICo 3.12-15; 4.5; 2Co 5.10; G1 6.7- 9; Ef 6.8; Ap 2.23; 11.18; 20.12,13). O julgamento não será coletivo, mas pessoal. O pai não será julgado no lugar do filho, nem a esposa no lugar do marido. Cada um comparecerá diante de Deus para prestar contas da sua vida.

Os ímpios serão punidos por causa de, e de acordo com, suas obras; os justos serão recompensados, não por causa de, mas de acordo com, as suas obras.

Terceiro ponto: No julgamento divino haverá penalidades e recompensas eternas. “A vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça” (2.7,8). 

Paulo traça uma antítese entre a perseverança na prática do bem e a desobediência à verdade conjugada com a obediência à injustiça. Essas duas condutas opostas, produzem resultados opostos. A prática do bem que implica buscar a glória, a honra e a incorruptibilidade resulta em vida eterna, mas os facciosos que se entregam a desobedecer à verdade e a obedecer à injustiça colhem ira e indignação. 

No dia do juízo haverá bem-aventurança eterna e condenação eterna, alegria indizível e choro e ranger de dentes. Nas palavras de Jesus, “[•••] irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25.46).

Quarto Ponto: A salvação é pela fé, mas o julgamento é pelas obras. (2.9,10) “Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego”

Se a salvação é pela fé (1.16), e não pelas obras (3.28), por que os homens serão julgados pelas obras? Seria uma contradição em Paulo? NÃO! No julgamento das obras, ninguém alcança nota suficiente para passar no teste. 

Mesmo aqueles que recebem aplausos dos homens não passam no crivo da perfeição exigida pela lei (Tg 2.10; G1 3.10). Todos os homens fazem o mal e todos merecem tribulação e angústia. Os que praticam o bem, o fazem em virtude da graça de Deus operando em seu coração.

Deus não tem dois pesos e duas medidas em seu julgamento. Judeus e gregos serão julgados sob os mesmos critérios e receberão recompensas ou penalidades de acordo com suas obras. A presença ou a ausência da fé salvadora em nosso coração se evidencia pela presença ou ausência de boas obras de amor em nossa vida. A fé autêntica e salvadora resulta invariavelmente em boas obras, confira! (Tg 2.18.

Uma fé que não se expressa em obras seria uma simulação, é uma paródia da fé. De fato não seria fé.

Quinto ponto: não há imunidade especial no julgamento divino. (2.11)  “Porque para com Deus não há acepção de pessoas”. O argumento de Paulo é que, o juízo de Deus é inevitável, tanto os gentios devassos quanto os judeus moralistas terão de comparecer perante o tribunal de Deus. Ambos serão julgados pelos mesmos critérios e Deus não inocentará o culpado, seja ele judeu ou grego. Para Deus não há acepção de pessoas. At 10.34). 

É impossível subornar este Juiz, cuja sentença está rigorosamente de acordo com o seu caráter, e não é afetada por “estado e condição externos, como nacionalidade, sexo, riquezas ou sabedoria”.

O juízo de Deus é inevitável e imparcial.

O juízo de Deus aos críticos moralistas é imparcial (2.12-16) O fato de que o julgamento de Deus será justo, conforme aquilo que tivermos feito (2.6-8), ou seja, imparcial entre judeus e gentios, sem nenhum favoritismo (2.911), é desenvolvido por Paulo agora em relação com a lei mosaica, mostraremos quatro verdades para elucidar esse ponto.

Verdade um: O julgamento divino será de acordo com a luz recebida.  (2.12) “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados”. Os gentios ou pagãos que não tiverem a lei escrita de Deus ,não serão poupados do julgamento. Serão julgados e condenados pelo conhecimento que têm de Deus por meio da revelação natural. confira lá (1.20,32). Já os judeus que têm a lei também não serão poupados, pois mediante a lei serão julgados, também está lá, confira! (2.12). 

Estabelecido está o princípio, de que os homens são julgados segundo a luz que tiveram, e não segundo a luz que não tiveram.

Paulo põe tanto judeus como gentios na mesma categoria de pecado e morte. Os gentios não serão julgados por um padrão que não conhecem. Eles perecerão em virtude do seu pecado, não por desconhecerem a lei. Os judeus que conhecem a lei serão julgados pelo padrão que conhecem. Não haverá dois pesos e duas medidas. A base do julgamento são as suas obras; a regra do julgamento é o seu conhecimento.

Cada um será julgado mediante a luz que recebeu.  Os judeus serão julgados com base na lei escrita; os gentios, com base na lei moral implantada em seu coração, a lei da consciência. (1:18 a 20).

Aqui está a resposta para aqueles que perguntam como ficará a situação dos que viveram antes de Cristo, ou mesmo dos índios embrenhados nas selvas, que nunca ouviram o evangelho. Todos serão julgados segundo a luz do conhecimento que receberam. Deus se revelou na criação do mundo e na consciência humana. Por isso, todo o homem é indesculpável, tanto o gentio que não tem lei (1.20) como o judeu que tem a lei (2.3). Porque, onde estiver pecado, o juizo de Deus é inevitável.

Verdade dois: A religião formal não poderá ajudar o homem no julgamento. (2.13) “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”. 

Não existe, portanto, nenhuma possibilidade de salvação por esse caminho. Paulo, contudo, está escrevendo sobre o julgamento, e não sobre a salvação. Está enfatizando que a própria lei não dava aos judeus garantia de imunidade no julgamento, como eles acreditavam, pois o importante não é ter a lei, mas obedecer-la. 

Seja conhecida a vontade de Deus pela lei de Moisés ou pela voz da consciência, o conhecimento da sua vontade não basta; fazer a sua vontade é que conta.

Rm 3:20, “porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado. E a inferência é que tal conformidade está além da capacidade do homem pecador. 

É desnecessário procurar descobrir, neste versículo, qualquer doutrina de justificação pelas obras, em conflito com o ensino desta carta acerca da justificação pela fé.  O principal argumento deste versículo não é mostrar que os ouvintes ou meros possuidores da lei não serão justificados diante de Deus; é mostrar que, em relação à lei, o critério consiste em praticar, e não em ouvir.

O apóstolo não está delineando um contraste entre justificação pela fé e justificação pelas obras da lei. Os que assim interpretam o que ele está dizendo estariam levando Paulo a contradizer-se,  porque todo o propósito dessa carta é provar que uma pessoa não é justificada pelas obras da lei, mas pela fé em Cristo. 

A antítese que ele está discutindo aqui em 2.12,13 é aquela, entre dois grupos de pessoas: 1) os que não só ouvem, mas também obedecem, e 2) os que meramente ouvem. Certamente que é o primeiro que será declarado justo por Deus (Mt 7.24-29).

Os judeus nutriam uma falsa segurança pelo fato de ouvirem a lei, de frequentar a sinagoga e de terem familiaridade com as coisas sagradas. Não são, contudo, os ouvintes da lei que agradam a Deus e serão justificados, mas aqueles que obedecem. Como já deixamos claro, Paulo não está afirmando que o homem possa ser justificado pela lei, já que nenhum homem consegue obedecer plenamente a lei. 

Quando Paulo discute a antítese: justificação pela fé ou pelas obras, ele deixa suficientemente claro que não é pelas obras, mas pela fé, que uma pessoa é justificada (3.20,28; 4.2; Gl2.16; 3.11,12)

Verdade três: Antes de ser julgado pelo tribunal de Deus, o homem é julgado pelo tribunal da consciência. O apóstolo deixa isso claro, aqui nesta passagem, (2.14,15): Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando- se ou defendendo-se.

Embora todos os homens sejam pecadores e estejam em estado de depravação total, nem todos se reduziram a um estado aviltante de decadência moral. Nem todos são bandidos, vilões, ladrões, adúlteros e assassinos. Há muitas pessoas que honram aos pais, são fiéis ao cônjuge, são bondosas com os filhos, têm um coração voltado para os pobres, promovem a honestidade no governo, revelam coragem na luta contra o crime, são honestas em seus negócios e comprometidas com os valores morais. 

Como explicar o fato de que, embora muitas dessas pessoas não tenham a lei, agem como se a conhecessem? É que essas pessoas servem de lei para si mesmas, pois quando Deus as criou as fez pessoas morais e autoconscientes. De tal forma que elas demonstram por seu comportamento que as exigências da lei estão gravadas em seu coração (2.15).

Além de revelar-se aos homens nas obras da criação (1.20) , Deus também se revelou a eles em sua consciência (1.19; 2.14,15). A consciência é um tribunal interior instalado por Deus dentro dos homens, por meio do qual eles são julgados todos os dias. E aquele senso íntimo do certo e do errado é um alarme que dispara toda vez que alguém transgride a lei. 

“Duas coisas me encantam: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim”.  Emmanuel Kant.

Todo ser humano tem uma noção inata do bem e do mal. Mesmo os gentios que não têm lei, têm a lei gravada em seu coração, e esta os acusa e os defende como num julgamento no qual interagem a promotoria e a defesa.

Essa consciência dá ao homem a capacidade de estar acima de si mesmo e de ver os seus atos e o seu caráter objetivamente. Antes de o homem ser julgado no tribunal de Deus, ele já é julgado no tribunal da consciência. É bem verdade que o pecado obscureceu essa consciência, mas não a anulou de todo.

Como diz um filósofo contemporâneo, meu amigo, naquele dia a consciência do homem, será tão clara que, “o ímpio caminhará para o fogo”. 

Verdade quatro: O juízo de Deus é inevitável e abrange até mesmo o foro íntimo. (2.16) “No dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”. Paulo conclui esse assunto, dizendo que nenhum tribunal da terra tem competência para julgar foro íntimo, mas o tribunal de Deus tem essa competência.  Deus não julga apenas as palavras e as ações dos homens, mas também suas intenções, desejos e pensamentos. Um Deus vê o coração. 

Ninguém poderá escapar desse escrutínio divino. O apóstolo Paulo diz que foi o décimo mandamento da lei que lhe deu consciência da sua desesperadora condição de pecador (Rm 7.7). Isso porque os nove primeiros mandamentos da lei são mandamentos objetivos, mas o décimo mandamento: “Não cobiçarás” é um mandamento subjetivo, ou seja, de foro íntimo.

Neste último verso da passagem do nosso estudo, quero ainda destacar a expressão de Paulo “segundo o meu evangelho”, que registra a convicção de Paulo de que ele não fora somente comissionado para pregar o evangelho da graça, mas também para advertir sobre “o Juízo vindouro”. Valera a pena voce ler, Atos 24.25, e ver como o juízo vindouro pode assustar, quem quer que seja.

Está na agenda de Deus, o Julgamento é inevitável.

O Julgamento é inevitável a todos os humanos, Deus pela pena de Paulo fala ainda um pouco mais neste último verso da nossa passagem. Vamos terminar nosso estudo de hoje, mostrando, mais quatro verdades importantes em 2:16.

Verdade a: Deus já marcou o dia do julgamento (2.16), “Isso tudo se verá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens”. Mas também é imprescindível que voce leia (Atos 17:31. Esse dia já está estabelecido e agendado. Esse é o dia da ira de Deus e do Cordeiro. Nesse dia todos terão de comparecer perante o tribunal de Deus para prestar contas. Ninguém escapará.

 Verdade b: Deus já nomeou o juiz do julgamento (2.16). Deus julgará os segredos dos homens no dia do juízo por meio de Cristo Jesus. O Filho de Deus será o juiz naquela suprema corte, Diante dele todo joelho se dobrará no céu, na terra e debaixo da terra.

Verdade c: Deus já definiu a abrangência do julgamento (2.16). Deus não apenas julga os homens de acordo com a verdade e “segundo o seu procedimento” (2.6), como também julga “os segredos dos homens” (2.16). Naquele dia Deus julgará não só os atos públicos dos homens, mas até mesmo seus segredos. (Lc 12.3; ICo 4.5).

No dia do juízo, Deus, por meio de Cristo Jesus, julgará os segredos dos homens. O juízo de Deus abrangerá as áreas ocultas de nossa vida. Todos os fatos virão a público, inclusive aqueles que no presente não são conhecidos, por exemplo, nossas motivações.

Tudo o que foi feito às escondidas será trazido à plena luz. O que foi ocultado nos tribunais e praticado nas caladas da noite, no anonimato das trevas, será proclamado em alto e bom som. Naquele dia Deus estampará o fosso do coração humano e revelará os seus segredos. 

Nenhuma demonstração externa de piedade ou de moralidade enganará os olhos de Deus naquele dia da verdade. O juiz não ficará satisfeito com um desfile de justiça exterior.

Deus não julgará apenas as coisas  abertas, mas também os segredos. O santarrão moralista pode dizer: Aquela mulher ou aquele homem merece o justo juízo de Deus, pois se trata de uma pessoa imoral; mas, depois, acaba praticando as mesmas coisas, muitas vezes na surdina. Os moralistas hipócritas condenam as outras pessoas pelas coisas mais explícitas, as coisas que dão manchete.  

No entanto, na sua própria vida secreta, vivem do mesmo jeito. Deus, porém, julgará não só o que se encontra publicado nas nas redes sociais, mas todas as demais coisas secretas. Toda aquela boa gente. Todos aqueles que atiram pedras, todos aqueles que escrevem os editoriais serão julgados por Deus. No dia do juízo os segredos do coração do homem serão revelados.

Verdade d: Deus já estabeleceu a referência do julgamento (2.16). No dia do juízo, Deus, por meio de Cristo Jesus, julgará os segredos dos homens, segundo o evangelho. Esse evangelho traz boas novas aos que se arrependem e creem, mas também juízo e condenação aos impenitentes e rebeldes.

Nós, aqui da Jesus for all baptist church, firmamos um pacto de não depreciar o evangelho, não o retratamos apenas como algo que nos liberta da tristeza, do medo, da culpa e de outras necessidades pessoais. Guerreamos as nossas guerras, com a força do Espírito Santo, para apresentá-lo como uma força que nos liberta da ira vindoura, sem contudo esconder dos despercebidos que o juízo de Deus é inevitável.

Não deixe de nos acompanhar aqui neste blog, estamos estudando todas as quarta-feira a carta de Paulo aos Romanos, esta foi a nossa 5ª aula, em breve postaremos as próximas. Que o Senhor te abençoe e te guarde, que ELE faça resplandecer o seu rosto em ti.

Sici Adriano, Junho,2023.