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Como o Deus santo pode justificar pecadores

Como o Deus santo pode justificar pecadores? É a pergunta mais importante a ser respondida por alguém que quer conhecer o que é o evangelho de Jesus. Antes de começar quero que você leia com atenção a passagem que vamos estudar, clique aqui, leia e depois volte. Por favor não prossiga sem ler, se não você vai perder o seu tempo. 

O texto que está na origem deste artigo é o coração da carta de Paulo aos Romanos,  é o centro, é o assunto principal da carta. Paulo registrou nesta passagem a própria essência do evangelho que pregava e que desejava pregar em Roma. A presente passagem é a substância real das boas-novas que a carta expõe. A doutrina apresentada aqui é considerada pela imensa maioria dos comentaristas como a acrópole da fé cristã. 

Estamos no coração da carta aos Romanos, quando Paulo responde à pergunta: “De acordo com o evangelho, ensinando sobre justificação, como o Deus santo pode justificar pecadores?” Já que a justiça de Deus exige a morte do pecador e o seu amor deseja livrá-lo da perdição eterna, como Deus resolveu esse dilema, salvando os pecadores sem deixar de ser justo? A resposta a essa importante pergunta você vai aprender hoje.

As palavras “mas agora” no começo de Romanos 3.21 são a mais gloriosa adversativa das Escrituras. Depois de mostrar no início da carta até o versículo 20 do capítulo 3, a tese de que todos os seres humanos, de todas as raças, de todas as culturas, de todos os credos e de todos os estratos sociais, tanto gentios como judeus, são culpados diante de Deus; 

depois de mostrar, que os efeitos da queda não trouxeram apenas alguns arranhões, mas lançaram todos os homens, indistintamente, num estado de depravação total; depois de colocar todos os homens sob a maldição e a condenação da lei, o apóstolo abre as portas da graça e aponta o caminho da salvação em Cristo Jesus, revelando que a salvação é uma obra exclusiva de Deus por meio de Cristo. 

Depois da longa e escura noite, raiou o sol, amanheceu um novo dia e o mundo foi inundado de luz. Deus, então, arrancou o homem do maior mal para dar-lhe o maior bem. Tendo provado a sua primeira tese, a culpa da raça humana, o apóstolo agora defenderá outra tese: que a salvação não é alcançada por mérito humano, e nem mediante as obras da lei, mas recebida pela graça, por meio de Cristo.

A gloriosa doutrina da justificação

Esta passagem aborda a gloriosa doutrina da justificação como ato exclusivo de Deus. No desenvolvimento deste assunto, nós examinaremos os pontos que são conclusivos para seu aprendizado. E claro para responder a pergunta, como o Deus santo pode justificar pecadores? A natureza da justificação (3.21-24). A justificação é um ato divino, e não uma obra humana. Acontece no céu, e não na terra. É um ato, e não um processo. É feita fora de nós, no tribunal de Deus, e não dentro de nós, em nosso coração.

A justificação não é novidade, mas uma doutrina profundamente arraigada no Antigo Testamento. Não é contrária à lei, mas testemunhada pela lei (3.21). Provém da graça, e não do mérito (3.24). E recebida pela fé, e não por meio das obras (3.28). O reformador João Calvino diz que não existe nas Escrituras passagem mais excelente para expressar a grande eficácia e a virtude admirável da justiça de Deus que estarei considerando aqui. 

A justificação não é uma verdade secundária e lateral da fé cristã, mas a própria essência do cristianismo. Ela exalta tanto a verdade aqui anunciada, que chega a dizer que este é possivelmente o parágrafo mais importante jamais escrito no planeta terra. Lutero disse que: “Se este artigo permanecer em sua pureza, a cristandade se manterá pura e em boa harmonia, estará livre de qualquer seita; se, todavia, não se mantiver pura, não será possível evitar alguns erros ou sectarismos. 

Na mesma linha de pensamento, Agostinho de Hipona quando escreveu sobre esta passagem ele disse: “Este artigo é o principal baluarte de toda a doutrina da religião cristã; se esta doutrina permanecer intacta, todas as idolatrias, superstições e corrupções que houver, em todas as demais doutrinas, por si mesmas, se desfarão”. Conclui-se que, com razão, é a justificação pela fé considerada a tese pela qual se mantém ou cai a igreja. 

A justificação detalhada.

Algumas verdades devem ser destacadas sobre isto:  Em primeiro lugar, a justificação é a manifestação da justiça divina (3.21). Paulo disse que a justiça de Deus se revela no evangelho, e a ira de Deus se revela contra toda impiedade e perversão dos homens (1.17 – 18). 

Do céu vem a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça humana; do céu também vem a justiça de Deus sobre todos aqueles que creem. 

Agora, o apóstolo desenvolverá essa gloriosa doutrina. O alvo é responder a pergunta dentro do tema justificação, como o Deus santo pode justificar pecadores sendo que Deus é justo e não pode tolerar o mal. 

O pecado é treva, e Deus é luz. O pecado é sujo, e Deus é santo. O pecado é maligno, e Deus é benigno. O pecado separa o homem de Deus, e por si mesmo, o homem não pode aproximar-se do Deus santo nem cumprir as exigências da sua lei. Por seus esforços, o homem não consegue satisfazer as demandas da justiça divina. 

Assim, esse homem pecador está sem esperança e condenado. A justiça de Deus só pode vir mediante a fé em Cristo para todos e sobre todos os que creem; não há distinção, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. 

Os moralistas não estão em vantagem se comparados aos devassos, nem os judeus têm vantagem alguma sobre os gentios. O “todos” de Romanos 3.23 continua a ênfase sobre a universalidade do pecado observada em outras passagens da carta como Romanos 3.9-12, 20,22. 

A passagem de Romanos 3.23 resume a tese que já estudamos, em Romanos 1.18 a 3.20. Não faz diferença se uma pessoa é rica ou pobre, jovem ou velha, homem ou mulher, culta ou inculta, judia ou gentia. Todos pecaram e carecem da glória de Deus. 

A prostituta, o mentiroso e o assassino estão destituídos da glória de Deus; mas você também com toda certeza você também está. Pode ser que eles estejam no fundo do poço e você no cume da montanha; no entanto, você está tão impossibilitado quanto eles de encostar as mãos nas estrelas”. 

Deus, porém, em vez de sentenciar o pecador ao castigo eterno, proveu um meio de salvação em Cristo. Como nosso substituto, Cristo tomou nosso lugar, sofreu por nós a espada  da lei, bebeu sozinho o cálice amargo da ira de Deus e morreu morte de cruz em nosso favor. 

A lei foi cumprida, a justiça foi satisfeita e nós fomos justificados. Essa é a manifestação da justiça divina, descrita no início da passagem que denominamos: como o Deus santo pode justificar pecadores

A justificação é um ato legal,

Em segundo lugar, a justificação é um ato legal, e não um processo existencial. A justificação não é um processo, mas um ato declaratório de Deus. A justificação é um ato legal, forense e judicial que acontece no tribunal de Deus, e não em nosso coração. E algo fora de nós, e não dentro de nós. E algo que Deus faz por nós, e não em nós. É importante assimilar isto. 

A justificação acontece de uma vez para sempre e nunca precisa ser repetida. Não há repetição na mente divina do ato de justificação, como não há repetição da morte expiatória de Cristo, sobre a qual ele descansa. 

A justificação não possui graus; ela é plena, cabal e absoluta para todos os que creem. Não existe um indivíduo mais justificado que outro. O menor crente é tão justificado quanto o maior santo.

A justificação é um ato declaratório.

Em terceiro lugar, a justificação é um ato declaratório, e não uma infusão da graça. A justificação não consiste na infusão da graça, nem torna a pessoa justificada pessoalmente santa. Pois, se a “causa formal” da justificação é nossa bondade, então somos justificados por aquilo que somos. 

Todavia, a Bíblia é clara em afirmar que nenhum homem pode ser justificado por aquilo que é. O homem é condenado por aquilo que é e por aquilo que faz, mas o homem é justificado por Deus mediante aquilo que Cristo fez por ele. 

Os reformadores rejeitaram peremptoriamente o ensino católico romano acerca da justificação progressiva. A teologia católica romana confunde justificação com santificação. Segundo o ensino da igreja Católica Romana, a justificação não é instantânea e sim gradual, pois é uma infusão da graça, e não um ato declaratório de Deus. Ao contrário, os reformadores reafirmaram o ensino bíblico da justificação instantânea e completa. 

A justificação é a ação de declarar judicialmente que a situação de determinada pessoa está em harmonia com as demandas da lei; é o ser absolvido, posição exatamente oposta à da condenação. Justificação é um ato judicial de Deus no qual ele declara, sobre a base da justiça de Jesus Cristo, que todas as ordens da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador”.

Deus declara justo o homem no início do percurso, não no fim. Se o declara justo no início do percurso, não pode ser com base nas obras ainda não praticadas por ele. Paulo vai mostrar isto em Abraão no capítulo 4. Justificação é um termo legal ou jurídico, extraído da linguagem forense. O contrário da justificação é condenação. Os dois são pronunciamentos de um juiz. 

Dentro do contexto cristão os dois, são os veredictos escatológicos alternativos, que antecipam o destino final do homem. Deus, como juiz, vai anunciar com base na justificação o nosso destino no dia do juízo. 

Portanto, quando Deus justifica os pecadores hoje, está antecipando o seu próprio julgamento final, trazendo até o presente o que de fato faz parte dos “últimos dias”. Quando Deus justifica um pecador, ele simplesmente declara que sua culpa foi expirada, a justiça foi satisfeita e ele possui a justiça que a justiça divina exige.

A justificação não é mero perdão.

Em quarto lugar, a justificação não é perdão, não é dizer assim, eu vou esquecer que você pecou! Ou Tudo bem eu vou fazer de conta que eu não vi nada. Ou eu não vou levar em conta o que você fizer. Eu me recuso acreditar que foi perdão

Eu fui julgado e condenado, veio um outro e sofreu a condenação me substituindo, morrendo a morte a qual era minha. A minha culpa foi removida, porque um outro sofreu a justa condenação, e o supremo juiz aceitou o pagamento. Então não foi perdão. 

Eu sei que Jesus tem autoridade para perdoar pecados, que a bíblia tem textos que diz que os meus pecados foram perdoados, não sei se tem erro nas traduções, mas eu prefiro crer que houve um julgamento, uma condenação e o cumprimento da pena. 

A justificação não é apenas o cancelamento da dívida, eu não fui perdoado, me sinto perdoado porque  sei que a minha condenação já foi paga e transitada em julgado. Transitado em julgado: Significa que um julgamento, como uma sentença dada por um juiz, torna-se definitivo. Não há mais como recorrer, não há mais como modificar o julgamento.

Perdoar é absolver alguém de uma penalidade ou dívida; tem uma conotação negativa. Justificar é declarar que alguém é justo depois do cumprimento da pena; tem uma conotação positiva. O perdão é a absolvição do castigo; a justificação é a declaração de que não existe mais nenhuma base para a aplicação do castigo. 

Quando um soberano perdoa um criminoso, isto não é um ato de justiça, pois não está fundamentado no cumprimento e na satisfação da lei. A justificação, porém, está sobre o fundamento de uma expiação. Na justificação a penalidade da lei não é suspensa, mas executada. Sendo justo, Deus não poderia apenas perdoar o pecador sem vindicar sua justiça. 

Como o Deus santo pode justificar pecadores, sem primeiro julgá-los? É por isso que Ele não fez vistas grossas ao pecado; ao contrário, puniu o pecado em Cristo. Assim, somos isentos da lei não por revogação dela, mas por execução. 

Consequentemente, a justificação envolve não só o pagamento de todos os pecados presentes, passados e futuros, mas também a restauração a favor, que implica a remoção de toda a culpa e de todo o escrito de dívida.

Justificação, três verdades básicas.

Ao escrever Romanos 3.24-26 Paulo ensina três verdades básicas sobre a justificação, que corrobora para aprendermos Como o Deus santo pode justificar pecadores.

Primeira é qual é a sua fonte, qual a origem da justificação? 2ª  qual é a sua base, qual é a plataforma de sustentação da Justificação? 3ª o seu meio, qual é o caminho pela qual a justificação é recebida? A resposta a essas três verdades esclarece, e mostra com embasamento bíblico como o Deus santo pode justificar pecadores. Consideraremos esses pontos a seguir.

A fonte de nossa justificação é Deus e a sua graça. A justificação é obra divina, e não conquista humana; é graça de Deus, e não obra do homem. Essa verdade bendita enseja-nos três conclusões: Em primeiro lugar, Deus é a fonte da nossa justificação. A salvação é obra de Deus do começo ao fim. 

Trata-se de um plano eterno, perfeito e infalível de Deus Pai. Deus planejou nossa salvação antes de lançar os fundamentos da terra. Não foi a cruz que tornou o coração de Deus favorável a nós; foi o coração terno de Deus que providenciou a cruz. O sacrifício de Cristo no calvário não foi a causa da graça, mas o resultado dela.

Não foi Jesus Cristo quem tomou a iniciativa, no sentido de fazer algo que o Pai relutava ou não estava disposto a fazer. Não há dúvida de que Cristo veio por sua própria vontade e se entregou gratuitamente. Mesmo assim, ele o fez em submissão à iniciativa do Pai.

Em segundo lugar, a graça que nos justifica não é barata. Você deve conhecer o Dietrich Bonhoeffer, ele falou acerca da graça barata que justifica o pecado e não o pecador. A graça que justifica o pecador não é barata; ela custou tudo para Deus. A salvação é gratuita para nós, mas custou muito caro para Deus, custou a vida do seu Filho. O preço pago na cruz não foi ouro ou prata, mas o sangue de Cristo.

Em terceiro lugar, a graça que nos justifica não pode ser merecida nem conquistada. Paulo usa uma espécie de redundância ao afirmar que “somos justificados gratuitamente por sua graça” em  (3.24). Não obtemos essa graça por mérito. Não compramos essa graça com dinheiro. Nós a recebemos pela fé. 

A graça não é meramente um favor imerecido, mas um favor imerecido a homens miseráveis, ingratos e culpados. A graça destina-se sempre àqueles que estão legalmente condenados e culpados perante a lei. A graça é o amor de Deus direcionado ao culpado.

A justificação é Deus e sua graça,

Se a fonte da justificação é Deus e sua graça, o fundamento da justificação é Cristo e sua cruz. Esta é a segunda verdade, como é que esse Deus justo pode declarar justo o injusto, sem comprometer a sua própria justiça nem condescender com a injustiça do injusto? Esta é a pergunta. A resposta de Deus é a cruz. Minha justiça foi satisfeita, diz Deus.

Seria injusto o Deus justo justificar o injusto. Isso seria contra sua natureza. Sem a cruz a justificação do injusto seria injusta, imoral e impossível. A única razão pela qual Deus, “justifica o ímpio” Rom 4.5, é que “Cristo morreu pelos ímpios” (Rom 5.6). Só porque ele derramou o seu sangue numa morte sacrificial por nós, pecadores, é que Deus pode justificar justamente o injusto. 

Como o Deus santo pode justificar pecadores a resposta

Quatro grandes figuras são aqui destacadas: Em primeiro lugar, a linguagem do tribunal – a justificação forense (3.24). Em virtude da expiação feita por Cristo na cruz, em nosso lugar e em nosso favor, somos declarados justos diante do tribunal de Deus. Não pesa mais nenhuma condenação sobre nós. Esse é um ato judicial, forense e legal. Estamos quites com a lei divina. 

É por isso que a cruz responde, como o Deus santo pode justificar pecadores? No calvário se cumpriu a sentença do trânsito em julgado do supremo e justo juiz, e o tetelestai é o alvará que declara que não há mais nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus.

Não podemos confundir justificação com santificação. Justificação é um ato, santificação é um processo. Justificação é uma questão de imputação. A culpa do pecador é imputada a Cristo e a justiça de Cristo é imputada ao pecador. Enquanto justificação é uma questão de imputação, santificação é uma questão de transformação. A justificação é um veredicto dado de uma vez por todas. A santificação é um processo que ocorre ao longo de toda a vida.

A segunda figura, é a linguagem do mercado de escravos – a redenção (Rom 3.24). A palavra grega apolytrosis, “redenção”, é um termo comercial emprestado dos mercados de escravos, comum nos dias de Paulo, da mesma forma que “justificação” é um termo legal emprestado dos tribunais. Redenção (apolytrosis) é o ato de comprar um escravo cativo a fim de libertá-lo.

A cruz foi a maior de todas as missões de resgate do mundo. Cristo nos resgatou da casa do valente, do império das trevas e da potestade de Satanás. Ele arrebentou o nosso cativeiro. Tirou-nos da escravidão com mão forte e poderosa. Éramos escravos da carne, do mundo e do diabo, e ele nos tornou livres. Estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e ele nos deu vida. Estávamos perdidos e fomos achados. Cristo verdadeiramente nos tornou livres.

É importante afirmar que o preço desse resgate não foi pago a Satanás, como equivocadamente ensinam alguns estudiosos. Esse preço foi pago a Deus. Deus providenciou o sacrifício e recebeu a oferta. Pelo sangue de Cristo, Deus propiciou a si mesmo. A cruz foi a justificação de Deus.

A terceira figura, é a linguagem do templo – a propiciação (3.25) . O substantivo hilasterion significa literalmente “o assento da misericórdia” ou propiciatório. A tampa dourada da arca da aliança, que ficava atrás do véu, no santo dos santos. 

Na Septuaginta, está muito bem definido e de maneira clara, que o objeto do verbo hilasterion não é Deus, mas o pecado. Portanto, o significado desta terceira figura aqui comentada, não seria desviar a ira de Deus, mas sim “expiar” o pecado. No entanto, a palavra grega hilasterion “propiciação”, significa também, e sobretudo, o ato de aplacar a ira divina ou de tornar Deus propício.

Quando diz que propiciação pressupõe a ira e o desprazer de Deus, e o propósito da propiciação é a remoção desse desprazer. Em termos simples, a doutrina da propiciação significa que Cristo propiciou a ira de Deus. Foi Deus, e não o homem pecador, quem providenciou este hilasterion – “propiciação”.

A propósito, o que é propiciação e expiação dos pecados? É o pagamento pelos pecados para fazer justiça e obter o perdão de Deus. No Antigo Testamento a propiciação era feita pelo sacrifício de animais. No Novo Testamento, Jesus veio e se tornou no sacrifício perfeito pelos pecados de todo o mundo.

A propiciação não é uma conversão da ira de Deus em amor. A propiciação da ira divina, efetuada na obra expiatória de Cristo, é a provisão do eterno e imutável amor de Deus, para que, por meio da propiciação, o amor pudesse realizar seus propósitos, para a glória dos ditames da sua santidade. Particularmente para mim dentre as quatro figuras apresentadas na bíblia para mostrar como o Deus santo pode justificar pecadores, a figura do tempo é a minha preferida.

Uma coisa é dizer que o Deus irado se fez amoroso, o que é inteiramente errôneo. Outra coisa é dizer que o Deus irado é amoroso, o que é profundamente verdadeiro. Porém, é igualmente verdadeiro que a ira, pela qual ele se fez irado, é propiciada por intermédio da cruz. 

Essa propiciação é o fruto do amor divino que a providenciou. Penso que as duas interpretações não se excluem. A propiciação tem uma referência voltada a Deus: por meio da morte de Cristo, a ira de Deus é superada e a sua justiça é demonstrada.

A cruz foi ao mesmo tempo o mais horrível e o mais lindo exemplo da ira de Deus. Foi o ato mais justo e mais gracioso da História. Deus teria sido mais do que injusto, teria sido diabólico ao efetuar aquele castigo se o próprio Jesus não houvesse primeiro, voluntariamente, tomado sobre si os pecados do mundo. 

Cristo se ofereceu voluntariamente para ser o Cordeiro de Deus, carregando com o nosso pecado, tornando-se, assim, o ser mais vil e grotesco deste planeta. Com o fardo de pecado que carregou, tornou-se repugnante para o Pai. Deus derramou sua ira nesse ser repulsivo. 

Ele o fez maldito por causa do pecado que carregou. Aqui a justiça de Deus foi perfeitamente manifesta. Contudo, éramos nós que merecíamos esse castigo. Jesus tomou sobre si a punição que era destinada a nós. Esse aspecto da cruz “para nós” é o que demonstra a sublimidade da sua graça. Ao mesmo tempo justiça e graça, ira e misericórdia. É tão espantoso que temos dificuldade para compreender. 

A quarta figura, é a linguagem da cruz — a demonstração pública (3.25b, 26). A palavra grega endeixis, “demonstração”, fala da revelação pública da cruz, anunciando a redenção do homem, a propiciação da ira de Deus e a vindicação da justiça divina. Tal demonstração, tinha como alvo “ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (3.26).

Deus pacientemente ignorou os pecados da humanidade por séculos e séculos, para punir esses pecados publicamente na cruz do seu Filho. Essa paciência, entretanto, era apenas a suspensão, e não a revogação da punição que era devida; o vencimento da dívida foi adiado, mas as acusações não foram canceladas.

Na gerações passadas, Deus não visitava os homens com uma ira proporcional aos pecados que eles cometiam. Neste sentido, os pecados deles foram deixados de lado ou esquecidos. Esse deixar de lado, entretanto, não pode ser equiparado à remissão de pecados. 

Suspensão de penalidade não equivale a perdão. Agora, em Cristo e em sua propiciação, Deus demonstrou publicamente que, a fim de serem revogados a sua ira e o seu juízo punitivo, era necessário providenciar a propiciação.

Nas gerações do velho Testamento, não havia provisão para tratar com pecados num sentido radical. Era simplesmente um meio, por assim dizer, de passar por eles, cobrindo-os durante aquele tempo. Aquelas antigas ofertas e sacrifícios propiciavam uma purificação da carne, concediam uma pureza cerimonial, que habilitavam o povo a continuar orando a Deus. 

Contudo, não havia sob o Antigo Testamento um sacrifício que pudesse realmente remover o pecado. O máximo era apontar para o sacrifício que aconteceria na cruz, o sacrifício que poderia purificar a consciência de obras mortas e reconciliar verdadeiramente o homem com Deus.

A redenção realizada por Cristo tem eficácia tanto retrospectiva como prospectiva. Quando o Filho de Deus sofreu e morreu, expiou os pecados de todos os que o aceitaram ou iriam aceitá-lo por meio de uma fé viva, ou seja, os méritos da cruz estendem-se tanto para trás como para adiante.

Os crentes que viveram antes de Cristo não foram perdoados por causa dos sacrifícios que ofereceram. Foram perdoados porque olhavam para Cristo.

Foi a fé em Cristo que os salvou, exatamente como é a fé em Cristo que nos salva agora.  No monte Calvário, ele deu uma explicação pública do que fez através dos séculos. Os pecados do passado, do presente e do futuro foram tratados de uma vez para sempre na cruz. 

A cruz é a grande trombeta de Deus anunciando ao mundo que Deus odeia o pecado, mas ama incompreensivelmente o pecador. Na cruz a justiça e o amor de Deus se beijaram. Na cruz Deus redimiu o seu povo, aplacou a sua ira e demonstrou publicamente a sua justiça. 

Na cruz, o Filho de Deus sofreu o golpe da lei que deveria cair sobre nós. O cálice da ira que deveríamos beber, Cristo sorveu-o todo sozinho. A morte que deveríamos receber como justa sentença dos nossos pecados, Cristo a sofreu por nós na cruz. 

A fonte da justificação é Deus e sua graça; o fundamento da justificação é Cristo e sua cruz; mas o meio e o instrumento da justificação é a fé. Somos justificados não por causa da fé, mas por meio dela. A fé não é a base da justificação, mas seu instrumento. Somos justificados pela obra de Cristo na cruz, mas recebemos os benefícios dessa obra por meio da fé. 

A fé não é um salto no escuro como ensinou alguém. Não existe fé cega. Fé não é algo ilógico e irracional. A fé está firmada na rocha da verdade. Seu objeto é o próprio Deus. Não há nenhum elemento meritório na fé.  A única função da fé é receber o que a graça oferece. 

A fé é comparada com a mão vazia do mendigo que se estende para receber a oferta. Mendigar, porém, não constitui uma obra, nem um mérito, nem um direito. A fé renuncia a si mesma; as obras congratulam-se a si mesmas. A fé olha para o que Deus faz; as obras têm a ver com o que nós somos. 

O valor da fé não reside nela mesma, mas inteira e exclusivamente em seu objeto, a saber, Jesus Cristo, e este crucificado. Dizer que a “justificação é pela fé” é outra maneira de dizer que a “justificação é somente por Cristo”. Assim, Deus justifica aquele que crê, não por causa do valor de sua fé, mas por causa do valor daquele em quem ele creu, O Cristo da cruz. A propiciação acontece pela fé da parte do salvo e pelo sangue da parte do Salvador.

As objeções aos propósitos justificação.

As objeções à justificação, para terminar. Após discorrer sobre a fonte, o fundamento e o instrumento da justificação, Paulo volta ao método da diatribe, que vimos no início do capítulo 2, para tratar das possíveis objeções a essa doutrina. Ele mesmo levanta as objeções e as refuta. 

Três objeções são listadas aqui: Em primeiro lugar, onde está o motivo de vanglória? Os judeus se vangloriavam na lei e na circuncisão. Julgavam-se melhores que os outros homens. Aplaudiam a si mesmos e de modo presunçoso se orgulhavam de sua justiça pessoal. 

No entanto, uma vez que a justificação é obra de Deus, e não do homem; e uma vez que ela é recebida pela fé, e não pelo mérito das obras, cessa qualquer possibilidade de vanglória pessoal. Não existe provisão para o orgulho na salvação pela graça. 

Não há nenhum crédito ou mérito em nos lançarmos à misericórdia de Deus em Cristo. Os  judeus não possuem nenhuma superioridade sobre os gentios. A salvação nem é garantida pela circuncisão nem é impossibilitada pela incircuncisão, porque qualquer um que Deus justifique é justificado pela fé e Paulo vai mostrar isto no capítulo 4.

A segunda objeção, é onde está a exclusividade dos judeus? Os judeus tinham consciência da sua relação especial com Deus, entretanto o que os judeus haviam esquecido é que seus privilégios não visavam a exclusão dos gentios. 

A doutrina da justificação pela fé exclui não apenas qualquer possibilidade de vanglória, mas também qualquer forma de elitismo e discriminação. Deus não é uma divindade tribal ou monopólio de um povo. Ele é o Deus único, vivo e verdadeiro, que estabeleceu um único meio de salvação, a fé em Cristo, e isto tanto para os judeus como para os gentios. 

Paulo põe o machado da verdade sobre a toda pretensão da exclusividade dos judeus, mostrando que não há diferença: 1 no fato da culpa “Todos pecaram” no passado, “e destituídos estão da glória de Deus” no presente.  2 na provisão da redenção e 3 na condição da salvação.

A terceira objeção, é onde está a contradição entre a lei e a fé. A lei e a fé não são antagônicas. Não estão em oposição uma à outra. A fé não anula a lei, nem a lei dispensa a fé. A lei cumpriu o seu propósito preparando o caminho para a fé. 

A função da lei é expor e condenar o pecado e trancar o pecador no calabouço da culpa até que Cristo venha libertá-lo através da fé. 

Assim, a fé justifica aqueles a quem a lei condena. Pela fé nós alcançamos uma justiça perfeita, a justiça de Cristo a nós imputada.

Justificação, um resumo final. 

Para resumir em poucas palavras a justificação, e como esta doutrina responde e elucida a questão como o Deus santo pode justificar pecadores?  Vamos juntos, e para fechar, em sete pontos, considerar esta argumentação de Paulo em Romanos 3: de 21 a 31.

a) 3.21. A justificação é sem lei. A justificação se dá quando o homem crê. A lei dava testemunho dessa justificação do evangelho, apesar de ela própria não ter poder para justificar.

b) 3.22a. A justificação é mediante a fé em Cristo. O valor da fé consiste no valor do seu objeto. A justiça do evangelho é uma dádiva concedida por meio da fé.

c) 3.22b, 23. A justificação é para todos, gentios e judeus. A lei foi dada aos judeus, e não aos gentios, mas a salvação é concedida tanto a judeus como a gentios, uma vez que todos pecaram.

d) 3.24. A justificação é pela graça. Em sua misericórdia, Deus não nos dá o que merecemos e, em sua graça, ele nos dá o que não merecemos. Não há mérito em nós; há toda graça em Deus.

e) 3.24b, 23. A justificação nos foi dada a um alto preço. A salvação é gratuita, mas não barata. Para Deus, ela custou muito caro, o sangue do seu Filho.

f) 3.25a, 26. A justificação foi feita em perfeita justiça. Tendo em vista que Deus satisfez sua justiça e a sua lei foi plenamente cumprida, Deus pôde justificar o pecado sem deixar de ser justo.

g) 3.27-31. A justificação foi consumada para confirmar a lei. A doutrina da justificação pela fé não é contrária à lei, mas à consumação da lei. A lei não nos justifica. Sua função é nos tomar pela mão e nos levar a Cristo, o Redentor.

Aqui chegamos ao fim desta tese, os Deus pelo Apóstolo Paulo nos ensinou o sobre o mais importante assunto quando se trata do evangelho, Como voce percebeu a meta era deixar claro como o Deus santo pode justificar pecadores, sendo que o pecado nos separa e mantém longe de Deus.

Caso você tenha ficado alguma dúvida aconselho você a ler novamente, ou mandar a sua dúvida para mim. será um prazer ajudar você a esclarecer suas duvidas. 

May,23. Sici Adriano

FONTE: Autores: Erdman, Charles; Lloyd-Jones, D. Martyn. MacDonald, William. Believer s Stott, John. Hendriksen, William. Calvino, João. Morris, Leon. Mueller, J. T. Greathouse, William. Cranfif.ld, Shedd, William. Thomas Nelson Berkhof, L. Bruce, E F. Bonhoeffer, Dietrich Schaal, Juan H. Murray, John.